Quem a conjecturou foi um Monge culto – Frei Brás de Braga, da Ordem de S. Jerónimo, que a projectou para nela serem instalados os vários Colégios Universitários a serem edificados pelas Instituições monásticas e religiosas, após a reforma régia da Universidade e da transferência desta de Lisboa para Coimbra em 1537 (reflexo da política reformista de D. João III). A nova Rua de feição renascentista, causou espanto geral, dada a sua considerável largura.
O COLÉGIO DE S. TOMÁS DE AQUINO:
A edificação deste imóvel foi iniciada em 1549, com projecto do Arquitecto Diogo de Castilho – contemporâneo de João de Ruão e de Nicolau Chanterenne – e nele foi instalado o Colégio Universitário de S. Tomás de Aquino, pertencente à Ordem de S. Domingos.
Do edifício primitivo, apenas resta o Claustro renascentista e o pátio ajardinado, com o eixo central marcado pelo tanque de água, numa possível evocação simbólica do Jardim do Éden e da Fonte da Vida; o portal da fachada nobre em arco de volta perfeita, e encimada pela estátua do patrono, está hoje implantado na fachada lateral do Museu Machado de Castro. Funcionou como Colégio Universitário até à Revolução Liberal e foi incorporado na Fazenda Nacional (como os outros Colégios) em 1834.
PALACETE DOS CONDES DO AMEAL:
Foi adquirido pela família dos Condes do Ameal em 1892, numa fase em que aqui funcionaria um armazém de madeiras. Em 1895, o Arquitecto Silva Pinto foi incumbido de projectar a transformação do extinto Colégio em Palacete Senhorial – desta intervenção chega até hoje as fachadas voltadas para a Rua Manuel Rodrigues e Rua Rosa Falcão. A fachada principal nunca chegou a entrar em obras, tendo mantido até 1928 a configuração herdada do Colégio de São Tomás.
CRIAÇÃO DA RELAÇÃO DE COIMBRA:
Entretanto em 8 de Maio de 1918, sob grande influência de Sidónio Pais (Presidente da República e antigo lente da Universidade) e do Professor Alberto dos Reis (lente na Faculdade de Direito), foi criada a Relação de Coimbra que foi instalada provisoriamente na Cadeia Penitenciária até 1928.
PALÁCIO DA JUSTIÇA:
Em 1928, o atual imóvel foi adquirido pelo Ministério da Justiça por 625 contos à Firma A. Amado, Lda (que entretanto o tinha adquirido aos antigos proprietários), para nele ser instalado o Palácio da Justiça;
A remodelação foi confiada a uma comissão administrativa encabeçada pelo Presidente da Relação, Dr. Forjaz Sampaio, sob a direcção técnica do Engº Castelo Branco, que enveredou pela adopção de um estilo Neo-Renascentista, em curso desde os trabalhos do Arquitecto Silva Pinto (fachadas voltadas para as ruas Manuel Rodrigues e Rosa Falcão).
A transferência do Tribunal da Relação deu-se em 27 de Outubro de 1928 da Penitenciária para este local, com o edifício transformado em estaleiro de obras e com as fachadas rodeadas de tapumes e andaimes.
Era política do regime saído da Revolução de 1926 – a ditadura militar, prosseguido depois pelo Estado Novo– dar uma imagem emblemática “majestosa” e “grandiosa” ás instalações dos Tribunais e de outros edifícios públicos.
À semelhança das Catedrais Medievais onde a gesta divina era narrada na pedra, nos vitrais e nos retábulos, o novo Palácio da Justiça propõe-se inculcar uma lição de História de Portugal, de sentido épico, inspirada nos “Lusíadas”, através dos painéis cerâmicos decorativos, consignados à “Cerâmica Lusitânia” e ao grande pintor ceramista Jorge Colaço.
Os portões são considerados a maior obra em ferro forjado no país e foram executados pelos artistas de Coimbra Albertino Marques, Daniel Rodrigues e António Maria da Conceição em 1933. No portão central existe uma simbólica figura da Justiça que teve como modelo uma filha de Daniel Rodrigues, Augusta da Conceição.
As obras de remodelação neste período levaram à configuração exterior actual: a cerimónia solene de inauguração foi feita em 6 de Maio de 1934, pelo então Ministro da Justiça, Professor Manuel Rodrigues.
Aqui foram instalados todos os serviços afectos à Justiça – Conservatórias,Notário, Polícia Judiciária e diversos Tribunais.
Em 27 de Abril de 1959, foi inaugurado o salão nobre pelo Ministro da Justiça, Professor Antunes Varela. O projecto decorativo foi feito pelo Arquitecto Amoroso Lopes, que incluiu a reconstrução do tecto (substituído por caixotões de madeira com frisos dourados), o revestimento das paredes com panos de damasco vermelho e paramento de madeira, um grande lustre de cristal e uma tapeçaria encomendada ao pintor Guilherme Camarinha representando as Cortes de Coimbra de 1211. No mesmo dia foi inaugurada no mesmo local uma exposição bibliográfica dos trabalhos relativos ao código civil de 1867 (código Seabra) e do futuro código civil (1966).
Na actualidade os únicos serviços aqui existentes são o Tribunal da Relação de Coimbra, o juízo central criminal de Coimbra e o juízo local criminal de Coimbra.
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