Intervenção do Presidente do TRC de abertura no Colóquio «Os Azulejos que Decoram o Palácio da Justiça de Coimbra»
Intervenção de abertura no
Colóquio «Os Azulejos que Decoram o Palácio da justiça de Coimbra»
organizado pelo TRC, no Salão Nobre da Relação de Coimbra, em 13 de Novembro de 2019
Luís Azevedo Mendes
Presidente do Tribunal da Relação de Coimbra
– Ex.mºs Senhores conferencistas neste Colóquio em especial e aqui presente na mesa, Dr.ª Cláudia Emanuel, também autora e investigadora no livro que hoje vamos apresentar
– Senhores presidentes das Relações do Porto e de Guimarães
– Senhores Conselheiros, em especial Conselheiro Sousa Dinis, também presidente da nossa Associação Cultural da Relação de Coimbra e grande animador deste Colóquio
– Senhora Procuradora-Geral Distrital de Coimbra
– Senhores Eméritos Presidentes da Relação e Eméritos Procuradores Gerais Distratais
– Senhora Vice-Presidente desta Relação de Coimbra e Senhor Vice-Presidente da Relação de Guimarães
– Senhores Desembargadores
– Senhor Secretário Geral do Ministério da Justiça, Dr. Carlos Sousa Mendes
– Senhores Procuradores Gerais Adjuntos
– Senhores Presidentes do Tribunal da Comarca de Coimbra e de Castelo Branco
– Senhor Director de Coimbra da Polícia Judiciária, Dr. Jorge Leitão
– Senhora Directora do Museu Nacional de Machado de Castro
. Senhores Presidente e Vice-Presidente da Fundação Sophia, nossa vizinha, Engenheiro João Rebelo e Dr. Costa Fernandes
– Senhores Juízes, Procuradores e advogados presentes
– Ilustres e Distintos Convidados
– Senhores Funcionários deste Tribunal
– Minhas Senhoras e meus Senhores
1.Como é natural e apropriado, no momento prévio a este Colóquio sobre «Os Azulejos que Decoram o Palácio da justiça de Coimbra» devo dirigir as boas vindas a todos os que hoje se associaram a esta jornada.
Em particular, quero agradecer muito ao Senhor Conselheiro Sousa Dinis, presidente da Associação Cultural da Relação de Coimbra, e com quem firmámos a parceria para a realização deste Colóquio.
Mas também à Dr.ª Cláudia Emanuel, a autora do esplêndido livro que hoje vamos apresentar, agradeço todo o entusiasmo e empenho que colocou neste evento. E falando do livro que a partir de hoje todos vão poder desfrutar não posso deixar de agradecer à Dr.ª Cláudia Teixeira as maravilhosas fotografias do livro e à Dr.ª Luísa Castelo Reis a distinta concepção gráfica que o torna único na beleza da forma.
Muito obrigado a todos pela vossa presença e participação.
2. Com este Colóquio e com a edição do livro sobre os azulejosprocuramos continuar a celebrar o Palácio da Justiça, concebido como o primeiro edifício monumento para a justiça em Portugal, desta feita olhando com a atenção merecida para o grande artista que foi Jorge Rey Colaço, que o serviu com a sua arte monumental.
Datas bem redondas aproximaram no último ano duas ideias celebrativas: aquela em que se deu o centenário da Relação de Coimbra, que tem a sede no Palácio, e aquela em que aconteceu o aniversário número cento e cinquenta sobre o nascimento de Jorge Colaço. E se as celebrações servem tempos luminosos, como tenho dito, importava dar-lhes grande aproveitamento com um livro como o que hoje apresentamos, há muito desejado e que fazia falta ao registo do património cultural do judiciário e, também, de Coimbra.
Este Palácio foi o primeiro palácio da justiça, como tal nominado, a ser construído em Portugal, no âmbito dum vasto programa para a qualificação dos espaços da justiça, a partir do primeiro quartel do Século XX, naquela altura pela mão inicial do professor Manuel Rodrigues, então Ministro da Justiça – e que Coimbra reconhece no nome duma das ruas que ladeiam este edifício. Programa depois prosseguido nas três décadas seguintes, com mais vigor quantitativo, pelo professor Antunes Varela, cujo centenário do nascimento comemoraremos em Dezembro e a quem devemos a conclusão do Salão Nobre em que nos encontramos.
Oxalá tal vasto programa não tivesse parado no tempo, com Coimbra há cinquenta anos a aguardar a extensão do Palácio da Justiça, projectada há muito para o terreno adjacente então adquirido para o efeito…; oxalá não assistíssemos todos os dias a relatos de degradação no parque judiciário do país, por razões de desinvestimento e de pura falta de cuidado…
Como se observa também noutros palácios da justiça, o Palácio de Coimbra evoca nos elementos decorativos e iconográficos a história de Portugal, nuns casos aquela que se liga à Justiça, noutros a que se liga às regiões, com inserção num movimento revivalista que deslizou do século XIX e da reacção ao ultimato britânico.
Essa história é no Palácio de Coimbra representada em grande intensidade nos painéis de azulejos figurativos da autoria do pintor e ceramista Jorge Colaço. O conjunto de rara beleza merecia o estudo e a divulgação dedicada que agora fazemos. Há cerca de vinte anos, a Relação de Coimbra fez publicar um importante trabalho historiográfico sobre o Palácio da Justiça de Coimbra da autoria de António Nunes, no qual se evidenciava o valor da a investigação sobre os painéis que o ornamentam. Quis a sorte que tenha sido agora possível recorrer à historiadora de arte Cláudia Emanuel, reputada especialista na obra de Colaço, para desenvolver o projecto do livro que hoje vamos apresentar.
Inspirada nos azulejos, a nossa Relação propôs-se animá-los em colóquios como este para estudar a história evocada em cada um deles, abrindo as portas aos cidadãos que devem ser os seus cultores proprietários.
Achámos que a primeira das figuras tinha de ser a do Infante D. Pedro, primeiro duque de Coimbra. Cronologicamente, é a última das figuras históricas evocadas por Jorge Colaço. O painel que o representa, para além de ser o mais divulgado, é também o mais singular. É o único que representa uma figura única, numa postura solitária, de recato, pensamento e determinação. Apesar da sua tragédia histórica, foi ele quem fez em Portugal a transição da Idade Média para a epopeia que se lhe seguiu. Todas as outras figuras pertencem à nossa história medieval, antes dele. Com a colaboração do Professor Alfredo Pinheiro Marques, que ficará na história agradecida desta Relação, realizámos no início deste ano um colóquio e uma exposição memoráveis.
Agora, com a indicação inspirada do Senhor Conselheiro Sousa Dinis, tratamos outras figuras primordiais, algumas que são mitos icónicos de Coimbra e de Portugal:
– Egas Moniz, o aio do rei fundador que nos observa do panteão de Santa Cruz ao fundo desta Rua da Sofia, cujo painel figurativo é quase gémeo de outro mais conhecido na Estação de S. Bento, no Porto, mas mais belo e equilibrado;
– D. Sancho II que mereceu um notável livro de reabilitação da memória por parte do Senhor Conselheiro, o romance histórico “Xeque ao Rei Capelo”, e que usou na capa uma imagem do pertinente painel de Colaço neste edifício;
– a Rainha Santa Isabel, padroeira de Coimbra, com um papel histórico invulgar na política e na acção social, centro de um culto popular que se mantém hoje ainda tão vivo como há séculos atrás, a quem Colaço dedica aqui dois painéis de azulejos;
– Inês de Castro, a recordista da representação nos painéis de Colaço, em três deles, trágica heroína de amores reais e daquelas emoções populares que constroem mitos eternos, figurada no namoro na Quinta das Lágrimas, na coroação depois de morta e na execução crudelíssima dos que a mataram.
Meus senhores e minhas senhoras
3.Agradeço penhorado aos ilustres conferencistas deste Colóquio: o Excelentíssimo Sr. Senhor Conselheiro Sousa Dinis, as Senhoras Professoras Maria José Azevedo Santos e Helena Queirós, a senhora Drª Isabel Garcia, a Drª Leonor Sá e, com especial relevo, o Dr. António Pacheco que também colaborou no livro que hoje vem a público e através dele ao Museu Nacional Machado de Castro do qual é insigne conservador na área dos azulejos e da cerâmica.
É um privilégio a vossa participação.
A partir de hoje será possível aos visitantes do Palácio – e são muitos os que o visitam atraídos apenas pela sua beleza, história e monumentalidade – dispor de um guia de grande qualidade sobre os seus azulejos, as suas representações, os seus criadores. Colóquios como este, por outro lado, são essenciais à divulgação do património cultural da justiça e a uma política de comunicação criadora para ambientes de desejável proximidade e envolvimento cidadão.
Muito obrigado a todos.