Ofensas Corporais Voluntárias agravadas pelo resultado
Ofensas Corporais Voluntárias agravadas pelo resultado. Crime de Omissão de Auxilio – Bem jurídico protegido; Concurso efectivo de infracções. Inimputabilidade. Principio do ne bis in idem Recurso criminal Nº 323/01.1GCLRA.C1 Comarca de – Leiria Data do acórdão: 05.03.2008 Legislação: Artigos 20º, nº 2; 144.º, alínea a) e 145.º, n.º 1, alínea b); e 200.º, n.º 2 do Código Penal; artigo 29, nº2 da Constituição da República Portuguesa. Relator: Dr.ª Cacilda Sena. Sumário:
- O fundamento legitimador do crime de omissão de auxílio é a solidariedade humana.
- O crime de omissão de auxílio pode estar em concurso efectivo com o crime de ofensa à integridade física da pessoa, por serem distintos os bens jurídicos tutelados por cada uma das normas incriminatórias.
- A expressão “o mesmo crime” deve ser considerada em função do que pode ser definido como objecto do processo e dos poderes de cognição do Tribunal, sendo que o objecto do processo não é um conceito naturalístico, mas sim um conceito normativo, o que valerá por dizer uma determinada conduta ou comportamento, só é relevante para o direito penal porque subsumível em determinados pressupostos de que depende a aplicação da lei penal.
- Em termos singelos o princípio “ne bis in idem” poder-se-á traduzir no sequente andamento discursivo: “o tribunal não pode voltar a julgar aquilo que já apreciou; mas também não pode voltar a julgar aquilo que não tenha julgado, mas podia e devia ter sido apreciado“.
- A afirmação da inimputabilidade não se basta, com a verificação de que um determinado agente criminoso sofre de anomalia psíquica. Torna-se necessário que se comprove o elemento normativo.
- A anti-juridicidade e a culpabilidade são as duas referências de que depende a imputabilidade, uma vez que o comportamento humano só é jurídico-penalmente relevante se contrário ao Direito e pessoalmente censurável ao agente, censura esta só admissível quando o agente se encontra em condições para se comportar de outro modo, isto é, de acordo com as exigências do ordenamento jurídico.
- A imputabilidade e a imputabilidade diminuída têm de ser aquilatadas e reportadas ao momento da prática do facto. A incapacidade de avaliação da ilicitude e de determinação de acordo com essa avaliação, tal como a diminuição da capacidade de avaliação da ilicitude e a diminuição da capacidade de determinação de acordo com essa avaliação, elementos consubstanciadores da inimputabilidade e da imputabilidade diminuída, respectivamente, só poderão integrar estas situações de supressão ou atenuação do juízo de culpabilidade, quando verificadas no momento da prática do facto
- Uma actuação preenche várias vezes um tipo, correspondendo a cada uma dessas violações uma diferente resolução criminosa, pelo que teremos tantos crimes quantas resoluções criminosas (artigo 30º, nº 1 do Código Penal) ao invés haverá um só crime quando apesar de várias vezes violado o mesmo tipo, cada uma dessas violações seja execução do mesmo e único plano criminoso, de modo a que possamos afirmar haver apenas uma única resolução criminosa.